A consulta de avaliação da fertilidade está indicada para quem deseja saber como está sua reserva ovariana naquele momento, quando não tem planejamento de gravidez. Sabendo-se que pelo menos 20% das mulheres aguardam até os 35 anos para então pensarem em ter filhos, a grande maioria destas mulheres não imagina que nesta idade 8% delas já não têm óvulos de qualidade para lhes permitir ter filhos. Diante disto, vale à pena esclarecer que a menina na puberdade inicia as suas menstruações com cerca de 300 mil óvulos disponíveis nos seus ovários. A cada ciclo menstrual, para um óvulo que atinge a ovulação, mil são perdidos, fazendo que, ao redor dos 45 anos dificilmente existam óvulos capazes de serem fecundados.
Estima-se que a chance de gravidez natural por mês é de aproximadamente 20% nas mulheres abaixo de 30 anos, mas de apenas 5% nas mulheres acima dos 40 anos. Dessa forma, as mulheres vão perdendo gradativamente a sua fertilidade, e muitas chegam ao momento que imaginam ideal para ter filhos, já sem óvulos.
Para mudar este ciclo natural de declínio da fertilidade, a medicina reprodutiva pesquisou muito e tem se aprimorado nas técnicas de congelamento ou criopreservação dos óvulos. A sugestão é que se faça a consulta de avaliação e orientação, para que este procedimento seja realizado preferivelmente antes dos 35 anos, justamente, por terem os óvulos uma melhor qualidade e consequentemente resultados melhores.
1-Como saber se tenho risco de ter poucos óvulos?
Os melhores exames para avaliar isto, são:
1- Avaliação do Hormônio anti-Mulleriano (melhor acima de 2);
2- Contagem de folículos antrais nos ovários através de ultrassom (deve ter mais que 3 em cada ovário);
3- Dosagem de FSH e LH (deve ser menor que 8, se o exame for colhido no segundo ou terceiro dia de menstruação). A contagem de folículos antrais e as dosagens de FSH e LH só tem valor se a mulher estiver sem pílula há pelo menos 2 meses.
2-Quem deve pensar em congelar óvulos?
1- Mulheres que serão submetidas a tratamentos de câncer, antes de iniciar a quimioterapia ou a radioterapia;
2- Mulheres com idade próxima aos 35 anos, preocupadas com a diminuição progressiva de sua fertilidade, sem parceiros ou sem planejamento, á curto prazo, de terem filhos;
3- Histórico familiar de menopausa precoce;
4- História pessoal de risco de baixa reserva ovariana (cirurgias ovarianas anteriores, endometriose, doenças auto-imunes, como tireoidites e doenças reumatológicas).
3-Como é possível congelar os óvulos?
O tratamento é semelhante a uma fertilização. Realiza-se a indução da ovulação através de hormônios aplicados por 10 a 12 dias; Exames ecográficos seriados monitoram o crescimento de folículos nos ovários (no interior deles estão os óvulos); Estes são retirados por punção, sob anestesia. No laboratório os óvulos maduros são selecionados e é realizado um procedimento de congelamento rápido, em nitrogênio líquido a -196ºC, no qual, os óvulos podem permanecer por anos. Quando esta mulher desejar ter filhos, em um momento mais oportuno de sua vida, através da fertilização em laboratório, pela técnica de ICSI, é injetado um espermatozoide de seu parceiro em cada óvulo, acompanha-se a evolução dos embriões até o terceiro dia e se transfere para o interior do útero embriões de qualidade, possibilitando a maternidade em idade mais avançada.
4-O congelamento de óvulos é seguro?
Um estudo publicado com mais de 900 bebês nascidos a partir de óvulos congelados apontou que não existe aumento na taxa de defeitos congênitos quando comparados à população, em geral. Também não houve aumento das taxas de anomalias cromossômicas quando comparados aos embriões derivados de óvulos frescos. Como a técnica é nova, serão necessários muitos anos de acompanhamento e novos estudos para reafirmar cientificamente a sua total segurança.
5-Há certeza de uma gravidez com óvulos congelados?
É importante enfatizar que o fato de congelar óvulos não garante uma futura gestação, assim como todo tratamento com técnicas de reprodução assistida. A taxa de sobrevivência ao descongelamento dos óvulos supera os 80% na maioria dos laboratórios, e as taxas de gravidez relatadas com estes óvulos em 2019 foi entre 30% e 50%. Se uma mulher congelar óvulos aos 35 anos, mesmo que ela venha descongelar seus óvulos e engravidar aos 40 anos, a chance de gravidez permanece a mesma que a de uma mulher de 35 anos, ou seja, 30 a 60% por tentativa, e não de 10 a 15%, percentual que se refere às taxas de gravidez de uma mulher de 40 anos que realiza tratamento. Por outro lado, sem tratamento sua chance seria de apenas 5 % de gravidez espontânea a cada mês após os 40 anos.
Próximo aos 35 anos, a reserva de óvulos diminui mais rapidamente e piora da sua qualidade, o que pode dificultar a ocorrência da gravidez. A avaliação da reserva ovariana com a orientação precisa desta mulher ou do casal, faz toda a diferença, pois é o fator idade o mais impactante nos resultados dos tratamentos, quando existem dificuldades para engravidar. Após 37 anos de idade, a mulher não deve protelar, se deseja engravidar. Nestas situações também se aplica a avaliação da necessidade de congelamento ou crio preservação de óvulos, mesmo sem histórico de tentativas para engravidar.
O congelamento de óvulos é uma saída que pode minimizar a angústia, de quem vê a idade passar, estando sem parceiro para ser o pai de seus filhos, ou mesmo tendo que enfrentar situações inesperadas como o tratamento de um câncer, entre outras situações.
Caso no futuro esta mulher consiga engravidar naturalmente, com maior segurança ela poderá descartar ou doar os óvulos que foram anteriormente congelados, pois, agora sim, sua família está constituída.
Se você tem projetos de uma gravidez futura em idade superior a 35 anos, faça uma avaliação da sua reserva ovariana e converse com um especialista antes de qualquer decisão.